segunda-feira, 21 de junho de 2010

Entre crianças e adultos

Apesar da Copa, da UFSC deserta e da chuvinha de domingo, o 4º Fita começou com casa cheia. Três peças internacionais - e muito diferentes entre si - movimentaram a noite de abertura.

A partir das 18h já se formava uma longa fila no hall para assistir Valparaíso em lambe-lambe, espetáculo que, como uma espécie de segredo, um sussuro no ouvido, pode ser visto apenas por um espectador por vez. O teatro de lambe-lambe, também conhecido como teatro de miniaturas, linguagem pouco conhecida do público - e que curiosamente encontra uma origem possível na Bahia, com Ismine Lima, aqui - conta histórias sempre curtas com bonecos ou sombras; e usa também uma pequena caixa para o palco, como aquelas caixas usadas para tirar fotografias no século XIX.



Talvez por isso as crianças, despertadas por alguma curiosidade, já que se encontram diante de algo desconhecido e velado, se interessem tanto pelo teatro de lambe-lambe. De fato, todas saiam encantadas, tentando contar para os amigos coisas que não podem ser ditas, e muitas vezes entravam na fila outra vez. Mas o espetáculo não é feito apenas para crianças. Aliás, este parece ser um dilema do teatro de animação. Como qualquer outra forma de arte, embora a cisão muitas vezes não seja muito clara, há espetáculos que dialogam com o público infantil, mas há outros que não.

É o caso, por exemplo, de Don Juan, Memoria Amarga de Mí, que possui uma dramaturgia repleta de ironias adultas, densidade psicológica, auto-análise; e que, seja como for, a presença do público infantil, muitas vezes, em um espetáculo que precisa sobretudo do silêncio, acaba atrapalhando outros espectadores, com barulho e choro.



Curiosamente, Le polichineur de tiroirs, que também abriu o Fita, ficaria no meio do caminho, pois apesar das ambiguidades que nenhuma criança deve entender - como a frase que fecha uma das esquetes, após a encenação amorosa de um pepino e uma couve: o amor é um cereal killer - a linguagem, entre clownesca e circense, sempre próxima da brincadeira, mas nem sempre politicamente correta, e mesmo a interação, que muitas vezes é direcionada para o público adulto e outras vezes para o infantil, não deixa de manter as crianças acesas.

Um comentário:

  1. Olá, amigos, linda postagem! Que ótimo ver os amigos da Oani apresentando no FITA FLORIPA! Apenas fazendo uma pequena correção na postagem acima, o Teatro Lambe Lambe foi criado na Bahia em 1989 por Denise di Santos e Ismine Lima. Este estilo de teatro tem este nome "teatro lambe lambe" pois foi uma homenagem que as criadoras baianas fizeram aos fotógrafos lambe lambes que ocupavam as praças do Brasil nas décadas passadas. O Teatro Lambe Lambe é considerado uma modalidade dentro do Teatro de bonecos, mas, em vista de sua expansão pelo mundo lutamos por seu reconhecimento enquanto gênero teatral, já que a caixa mágica como também é conhecida abarca milhares de dramaturgias, histórias, contos, e afins. Um belo exemplo é poder ver a linda cidade chilena "Valparaíso" em miniatura pelas mãos da Oani Teatro. Obrigado por colocarem lambe lambes em sua programação, eis uma das lutas do Centro de Pesquisas Lambe Lambe Brasil. Grande abraço a todos! Grato. Daniel T. Vamos em frente e parabéns pelo FITA! Sempre um sucesso!

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