quarta-feira, 1 de junho de 2011

Rainha dos bonecos

“Sempre tive relação com o teatro, o circo, o mundo da fantasia. Quando vi pela primeira vez a companhia italiana I Piccoli di Podrecca [ainda criança, no Rio de Janeiro] quis apreciar coisas do mundo todo”, lembra a colecionadora e estudiosa de títeres carioca Magda Modesto, em uma entrevista concedida por telefone no fim do ano passado. Em sua 5ª edição, marcada para o período de 12 a 19 de junho de 2011, o Fita Floripa abre o blog do festival em homenagem à verdadeira “garota de Ipanema” (como a própria, apaixonada pelo Rio, autodenominava-se em suas conversas sempre bem-humoradas) que nos deixou em abril de 2011, aos 85 anos de idade.

No ano passado, o Fita Floripa contou com a participação de Magda, que trouxe à capital catarinense parte de uma coleção raríssima e longamente construída. Com um acervo de mais de 350 títeres do Brasil, da Europa e de países como Java, Índia, Mianmar, Irã e China – colhidos em 40 anos, em viagens e por parentes e amigos – a estudiosa já representou as instituições brasileira e francesa de teatro de marionetes. E o encanto pelos bonecos foi despertado muito precocemente, de maneira sutil e poética. Aos quatro aninhos, Magda aprendia com a mãe, ao lado dos irmãos, a tirar o miolo do pão antes de comê-lo. Após o almoço, umedeciam a massa com água e moldavam pequenos bonecos, criando personagens e histórias em cima da mesa.

Foi uma relação para a vida toda. Até os 84 anos, a titereteira – como é conhecida no meio teatral -, abriu os olhos para todo o tipo de boneco e expôs sua coleção em festivais de teatro do país e de fora como uma maneira particular de mostrar as facetas políticas, econômicas e culturais do planeta. “Meu interesse não parte da longevidade ou do material dos títeres, mas do que expressam. Alguns buscam a mitologia; outros, o deboche do cotidiano”, disse Magda. O primeiro de sua coleção foi um calunga, ou João Redondo, da Paraíba, o pai dos causos nordestinos sobre relações familiares.

Para se ter ideia da profundidade do estudo de Magda, uma das raridades de seu acervo sobreviveu à destruição promovida pela Revolução Cultural da China, há 44 anos. Achatado e feito de couro, o boneco devia ser usado no teatro de sombras. Acredita-se que ele e muitos outros tenham sido repassados entre artistas antes de chegar às mãos mágicas de Magda, que estudava suas rotas. “Por alertar sobre aspectos psicológicos, sociais, arqueológicos, o intuito das exposições é mais educacional do que contemplativo”, disse a pesquisadora. Eram essa e outras tantas histórias que ela fazia questão de compartilhar com cada visitante do seu “mundo de fantasia”. Magda deixa saudades, mas também um grande legado ao teatro de animação brasileiro.

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